O exoplaneta mais próximo daqui tem um novo observador
O Telescópio Parkes está estudando Proxima Centauri b para ver se há vida por lá.
O Rádio Telescópio Parkes, localizado no sudeste da Austrália, está apontado para Proxima Centauri, a estrela mais próxima de nosso Sol e para o planeta que recentemente fora descoberto lá. Depois de duas semanas de um trabalho específico, o gigante Telescópio Parkes foi apontado para a estrela na esperança - mesmo que escassa - que o planeta conhecido como Proxima b abrigue vida que consiga se comunicar utilizando ondas de rádio.
"Estrelas próximas de nós são muito interessantes e, consequentemente, planetas próximos também," Andrew Siemion, diretor do Centro de Pesquisas Berkeley SETI e membro da equipe Breakthrough Listen, disse em uma entrevista. "Por isso que saber se há um planeta potencialmente habitável ao redor da estrela mais próxima de nós é algo emocionante."
A utilização do Parkes marca seu ingresso no Projeto Breakthrough Listen para procurar por sinais de vida inteligente além da Terra. O Telescópio Green Bank, na Virgínia do Oeste e o Automated Planet Finder, no Observatório Lick, já estão monitorando o céu à procura. E apenas no mês passado, o Breakthrough Listen assinou um acordo com o radio telescópio Fast, da China.
Mas o Parkes é crucial por uma razão: Ele pode observar o céu no hemisfério sul, que é um ponto tangível para Proxima Centauri, mas inacessível para o Green Bank e outros telescópios em Terra.
Siemion diz que Proxima foi o primeiro alvo ideal para o afamado telescópio, que desempenhou um papel importante na transmissão das primeiras mensagens de outro mundo: Fotos e transmissões da Apollo 11. Os australianos o consideram um monumento nacional e estão muito mais familiarizados com o Parkes do que os americanos estão com observatório de rádio, ele diz.
Enquanto a transmissão do pouso na Lua foi uma façanha, receber mensagens de uma civilização que está situada na órbita da estrela mais próxima mudaria o curso de toda a história.
Breakthrough Listen começou procurando por sinais extraterrestres bem antes de alguém saber que Proxima Centauri b existia. O Telescópio Green Bank dedicou seus instrumentos ao projeto Breakthrough Listen por nove meses e os engenheiros de Berkeley SETI realizaram uma configuração similar no Parkes. Eles dispenderam duas semanas testando o hardware antes de iniciar os trabalhos dia 7 de Novembro com foco em Proxima.
O Telescópio Pakes - que tem um só espelho primário - oferece algumas vantagens sobre os espelhos do VLA, que são segmentados, ou ainda sobre o Atacama Large Millimeter/sub-millimeter Array, no Chile. Eles oferecem uma área de abrangência maior para coleta de luz vinda do espaço, o que faz deles telescópios privilegiados para as pesquisas no SETI ou de fenômenos interessantes como explosões de ondas de rádio, segundo Danny Price, cientista do projeto Breakthrough Listen no Telescópio Parkes.
Organizar receptores de rádio em frequências variadas pode ser uma tarefa difícil, por que transmissores locais, assim como telefones celulares, microondas, rádios e outros, podem interferir nos sinais distantes vindos do espaço profundo. Engenheiros de softwares precisam desenvolver aplicações que entendam que certos tipos de sinais não são provenientes de uma ligação telefônica, por exemplo. Para fazer isso, o telescópio é apontado para Proxima, depois para longe dali, e depois para objetos que possam ajudá-lo a realizar uma calibração, assim como estrelas de nêutrons, do tipo pulsares.
Proxima Centauri, por si mesma, já coloca outros desafios em termos astrofísicos. É uma estrela instável, o que significa que constantemente está expelindo radiação em raios-x, entre outras radiações no espaço (inclusive em direção a Proxima b). Price diz que a equipe espera detectar erupções estelares utilizando-se da configuração Breakthrough.
Essas observações, assim como o gerenciamento de dados e outros artifícios de software, beneficiarão não apenas o SETI, mas toda a comunidade astronômica que trabalha no segmento (de ondas de rádio), incluindo o projeto Square Kilometer Array, de acordo com Price.
"De um ponto de vista tecnológico, nós estamos sendo pioneiros," ele diz. "Parte dos problemas que nós encontraremos, junto com o SKA (Square Kilometer Array), é o grande volume de dados. Armazenar isso e processá-los é um desafio."
Olhando do hemisfério norte - onde observadores podem espreitar o coração da Via Láctea, isso sem mencionar outras galáxias próximas - o Telescópio Parkes faz do projeto Breakthrough Listen o projeto SETI mais coordenado que já houve. O programa Parkes compartilhará informações e métodos de busca com o telescópio FAST, que tem a maior abertura dos receptor de rádio do mundo, para acelerar o tempo que se leva para realizar observações. O bilionário russo Yuri Milner, fundador do Breakthrough Listen, como também de outras iniciativas inovadoras, disse que o Parkes foi uma marca importante para sua pesquisa.
"Esses instrumentos gigantescos são as orelhas do planeta Terra. Agora eles estão a procura de escutar sinais de outras civilizações," disse ele em um comunicado.
A caça alienígena tem desempenhado há muito tempo um papel na cultura popular e na ficção científica, especialmente no que diz respeito à sua atenção entre os cientistas e certamente com relação ao seu financiamento na área da astronomia e da astrofísica. Mas o projeto Breakthrough está mudando isso. Agora, com observatórios em 3 continentes compartilhando dados e tecnologias, o SETI tem muito a ganhar.
"Levará um tempo até que a mensagem de conscientização chegue até as pessoas," disse Price. "Mas nós sabemos agora que há muito mais exoplanetas do que alguém já imaginou. Realmente esse é um momento diferente, um momento interessante e um grande momento para realizar a procura."
Proxima Centauri tem sido assunto desde que foi descoberta há 101 anos. A estrela mais próxima de nós (fora o Sol, é claro) é menor e mais vermelha do que o Sol e tem duas estrelas parecidas com o Sol em sua companhia, Alfa Centauri A e B. Mas isso não significa que ela é menos importante. E o fato dela ser uma estrela fraca é uma boa notícia para o mundo pequeno que a circunda em uma "órbita apertada" de 11 dias. Pelo fato da estrela ser mais fraca, o planeta Proxima b está em sua zona habitável, onde as condições poderiam ser favoráveis para haver água líquida em sua superfície. Comparativamente falando, Proxima b está na mesma posição da zona habitável que a Terra está na zona habitável do Sol.
É claro que isso não significa que Proxima b possa hospedar vida. Mas se puder, não há como dizer se os "Proximos" poderiam ser inteligentes. E mesmo se eles forem inteligentes, não há razão para assumir que eles poderiam ser capazes de transmitir sinais de rádio diretamente para a estrela amarela de meia-idade mais próxima deles: o nosso Sol.
Se eles puderem, porém, e souberem como direcionar um sinal para nós, o Parkes será capaz de encontrá-los.
"Não apenas filosoficamente, mas tecnicamente falando, essa é realmente a nossa melhor oportunidade de detectar uma civilização que é igual ou mais avançada do que a nossa", diz Siemion.
Na próxima geração, telescópios ópticos mais potentes irão observar a estrela e tentar estudar as atmosferas dos planetas. Em última análise, nosso primeiro sinal de vida poderia vir através de uma outra iniciativa Breakthrough, Breakthrough Starshot, onde Milner pretende enviar uma frota de naves à vela até o sistema de Alfa Centauri.
Enquanto isso, o telescópio Parkes estará na escuta.
Fonte: http://www.astronomy.com/news/2016/11/proxima-centauri-seti-effort
[Tradução: @difurlan1]
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